DECADUTOGÊNIO
[Franz Moritz Wilhelm Marc]
© Márcia Sanchez Luz
Todos diziam que um dia só iria dar sinal vermelho.
E que cada passo dado seria contado e, chegando a dez por cada pessoa, num total de dez mil pessoas, um enorme rombo iria surgir em cada esquina onde houvesse um bueiro.
Diziam também que as luzes se apagariam a cada dez segundos, permanecendo acesas por dez milésimos de hora.
E se por acaso alguém arriscasse sair de casa neste intervalo, dez cavalos azuis surgiriam defronte dos sinais vermelhos, formando uma enorme nuvem roxa por cima de dez chaminés.
Seriam imunes a isto as crianças, pois que o mundo só existiria para alegrar os pequenos seres que, de dez em dez, formariam o deca-dutogênio.
Assim pregavam todos.
Sintético, e direto ao ponto: a inocência perdida, se não recuperada e cultivada, gera o medo, numa urgência de milésimos de segundos e a ruptura da essência das pessoas e, delas, na multidão. Márcia consegue, de forma lapidar, resumir a perplexidade do mundo em poucas linhas. "Eu fico com a beleza da resposta das crianças", diria o poeta...
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