PERFIS
[Giorgio de Chirico]
© Márcia Sanchez Luz
Todos os tempos que advêm de uma época serena tendem a ser mais duros, difíceis de serem compreendidos, em sua mais natural forma, na essência de seus contornos. São perfis bonitos, bem elaborados, mas difíceis de serem tocados, pois seus peitos são perfeitos e grandes o bastante para serem escalados e suas coxas lisas são lindas demais para serem engolidas bruscamente (ou mesmo lentamente) e seus olhos atentos e abertos que brilham para ofuscar enxergam não somente as coisas simples da vida, mas também o que há de mais obscuro, mesmo em se tratando de tempos serenos. E sua boca fala pouco e do pouco se tira o tudo que calamos, temerosos, horrorosos, odiosos, perfeitos para épocas difíceis e intranquilas, em que devemos permanecer tranquilos mais que o esperado, nós, os desesperados. E seus dentes são tão brancos que tememos olhar para não nos ofuscarmos com seu sorriso limpo que, de tão sujos, os nossos não ousam sorrir. E sua pele é macia; e sua carne é doce! Alguma vez na vida, de alguma forma devemos tê-la tocado; algum momento em nosso leito, no peito, na coxa, nos olhos, na boca, nos dentes, sentimos, sem nos aperceber, o orgasmo de tocar seu doce corpo, época linda, de tão difícil que para ti, tempo, possa ser.
Pertinentes, texto e imagem. No corriqueiro, a rotina puxa para a exaustão e o cansaço. A ameaça terrível, para o amor, é o dia-a-dia... Há que existir a presença do folguedo e do riso para a presença de "laços não lassos" tanto na facilidade, quanto na dificuldade. Parabéns pela escolha, Márcia.
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